Este historiar contado por mim tanto
pode ser verdadeiro como também pode ser arquitetado, mas ouvi.
Eu
residia no Jardim Bela Vista, na cidade de São Paulo e trabalhava em uma
borracharia na Avenida Brigadeiro Luiz Antonio está borracharia ficava bem
próximo ao Teatro Bibi Ferreira.
Pois
bem, sendo borracheiro não podia de forma nenhuma recusar conserto de pneus e
foi assim que conheci um senhor taxista por nome de Gervasio, estava já
fechando a borracharia quando ele estacionou seu táxi em frente e me disse.
Sei que já esta fechando, mas
preciso desse seu favor, moço.
Na
hora achei ruim, eu tinha trabalhado o dia todo e já era quase nove horas da
noite, mas como dizer não se trabalhava a comissão.
Fiz
o serviço ele me pagou agradeceu e sumiu por vários dias, em uma sexta feira
ele adentrou a borracharia com dois pneus para consertar, reconheci na hora por
que ele arrastava há voz um pouco gago.
Enquanto
fiz os pneus conversamos muito, aquele dia ele me disse que era do norte e que
sua família moravam todos lá, consertei os pneus ele novamente me pagou e
desapareceu novamente.
Como
na borracharia vendíamos pneus, câmaras, e além de lâmpadas de faróis e outras
coisas miúdas para automóveis, certo dia ele chegou novamente a procura de
lâmpadas de setas, essa parte eu não fazia, mas tinha o eletricista que
trabalhava com esses componentes e fez o serviço.
Enquanto
o Zequinha dava arrumação no táxi do senhor Gervasio, nós ficamos conversando,
foi então que ele me falou que deixou sua família no norte há anos atrás e não
mais voltou.
Não sei por que eu sempre faço
grande amizade com as pessoas e elas logo confiam em mim e passa rapidamente a
expor suas vidas, talvez seja porque eu as escuto sem me aparecer, pois sou
sempre humilde e ouço mais do que falo, portanto acho que é por isso que elas
vão se abrindo e me contam muitos segredos,
Assim
o senhor Gervasio foi cada vez mais se tornando freguês da borracharia e para
nós era muito bom, pois ter freguês é manter as contas em dia.
Ao
completar um ano da nossa amizade o senhor Gervasio praticamente já havia me
contado tudo de sua vida, eu sabia que ele deixou esposa, filhos no norte, não
mais voltou e por isso ajeitou uma nova mulher, por duas vezes ela veio até a
borracharia.
Em uma tarde quando estávamos sem
serviço apareceu na borracharia o senhor Gervasio e foi neste dia que ele abriu
o bico e me contou tudo, mas tudo mesmo começou assim.
Eu quando morava no norte matei um
caboclo por ter assobiado para minha mulher.
Isto
ele falava na maior tranqüilidade e com o arrastar do nordestino, eu fiquei
ouvindo toda a historia.
Pois
bem menino, daí eu tomei rumo e vim cair aqui em São Paulo, me escondendo de tudo
e de todos, mas um dia uma policia me deu ordem de prisão, peguei vinte anos de
cadeia.
Com
vinte anos nas costas para cumprir fui jogado no Carandiru, durante uns cinco
anos uma vida completamente besta eu tinha lá dentro, mas com meu bom
comportamento comecei sair em datas promocionais para visitar meus familiares,
como eu tinha juntado com está mulher que tenho ia para o barraco da família.
E
foi nessas idas e vindas do Carandiru que fiquei conhecendo um primo de minha
mulher também nordestino por nome de João.
João
havia cometido crime dentro de um banco, pois ele era um bandido dos mais
violentos, roubava, assaltava se desse à grana ele não fazia nada, mas em um
roubo, o segurança quis proteger o banco atirando nele, João matou dois sem dó
sem piedade, raça forte.
João
estava preso no mesmo Carandiru, mas nunca tínhamos topado lá dentro e com o
conhecimento que tive para com ele, tornamos melhores amigos e assim sempre batíamos
longos papos, até o dia em que fomos assistir um culto feito por um ministro
vindo de certa igreja que nunca havíamos escutado o nome, creio que era igreja
fundada de novo.
O
tal nos convidou para ajudá-lo na missão de construir almas-cegas, eu não quis.
Mas João fez amizade com esse pastor
e esse homem foi passando as dicas de como pregar, como evolver uma mente a crença
e assim com pouco tempo João já estava fazendo as pregações dentro do Carandiru
e foi lá dentro que ele adquiriu todo conhecimento da fé humana.
Muitas
vezes ele me disse que se eu quisesse poderia ficar milionário usando a fé louca
que o ser humano tem, por varias vezes eu rebati o que ele dizia, mas como via
que ele não poderia ser dominado larguei mão.
Muitas
vezes ele disse que seu pastor maior, o tal que vinha no presídio ensinava como
lidar com os mortais, a pregação tem que ser feita com emoção, como um ator em
um teatro que prende a atenção de quem está assistindo assim é o bom pastor.
Se
precisar chora como a um bebê pedindo mamadeira ou fala como um capitão de exercito
dando ordens aos seus subordinados assim tem que ser um ministro que usa palavras.
A
pessoa não precisa saber nada basta ter coragem e ditar as regras necessária para
que tudo aconteça, pois a fé do ser humano dá firmeza e tudo acontece até mesmo
aleijado anda, cego vê, o mudo fala, a ferida fecha, o sangue talha, a dor some
assim quem prega é exaltado como sendo o bem feitor da obra.
Ainda
dizia João que o grande homem da palavra santa falará que para se sair bem
muitas manobras há de ser feitas, para que todos acreditem é preciso fazer o
trabalho bem feito, por isso deve-se contratar pessoas com vontade de ter
melhora induzindo-os a fazer e dizer coisas, assim o prodígio acontece de toda
maneiras.
E como a medicina está muito
avançada e os remédios estão cada vez mais rápidos no eficaz efeito da cura fica
bem mais fácil fazer um fenômeno acontecer além da fé existente, fora isso tem
como iludir milhares e milhares de pessoas com o ilusionismo, pois o mágico sendo
rápido dentro de milhares, somente o privilegiado pode descobrir a receita.
Continuava o senhor Gervasio me
contando o que ele ouviu do então primo de sua mulher João lá dentro do
Carandiru, eu só ouvindo e imaginando por isso que está cheio de sacanagem por
aí.
João
me disse que o homem pregador dissera, faremos chover fogo se preciso e até
milagre de pagar uma divida acontece se a pessoa tiver fé e depositar um saldo
para o inicio do liquidar.
Perguntei a João, mas como pode ser
isso, ele me respondeu um pouco rude, pedimos um tanto e esse tanto vai se
tornar milhares de vezes maior e para uma divida ser paga para dizer que é o fenômeno
acontecido muito fácil será , claro que para isso acontecer temos que adquirir
conhecimentos sobre o devedor, com alguma ajuda.
Não
estava entendendo, mas ele continuou a me explicar, alguém de nossa confiança
descobre tudo sobre a pessoa que está devendo e com a arrecadação que se tornou
um montante muito grande mandamos à pessoa confiável depositar saldando assim a
divida do devedor no banco.
Se
a divida for para com outra pessoa que o tal deve, damos um jeito de pagá-lo
sem que este fale nada, tudo é fácil principalmente quando se envolve dinheiro,
quem provara que foi nós que pagamos se não tiverem um comprovante para
constar.
Com
isso nossa facção aumenta como bicho na carniça e nos tornaremos imbatíveis,
até mesmo os homens estudados ajoelharam aos nossos pés, seremos como vento que
leva a chuva para fazer o arroz nascer.
Como
pardais na comunheira dos casarões estaremos observando o alimento cair das sacolas
vindo do mercado,nas mãos das mulheres descuidadas, seremos como mêrro no meio de
pássaro preto, jamais encontraram o ponto para condenarmos, pois não deixaremos
rastros para chegarem às pistas.
João
falava com um conhecimento como a um que estudou por anos, eu ouvia, mesmo não
achando justo aquilo, mas ele dizia que era o que ia fazer ao sair do
Carandiru.
Então em mil novecentos oitenta e
quatro eu sai do Carandiru, acertei as contas com a justiça paguei o que devia,
indo viver em liberdade com minha mulher, foi então que meu cunhado me deu
emprego de taxista e hoje sou o proprietário do carro.
João
saiu do Carandiru em mil novecentos e noventa e dois e a ultima vez que ouvi falar
dele foi no ano de mil novecentos e noventa e oito, era pregador em um templo
no interior.
João
já tinha refeito sua vida, casado, com filhos pequenos mesmo sendo de uma idade
avançada, tinha propriedades, carros e lojas, foi como ele mesmo disse a mim, sairia
da prisão não mais para matar e sim arranjar modestos para acompanhá-lo.
A única coisa que perguntei ao senhor Gervasio
foi porque ele não quis seguir o então primo de sua mulher na empreitada, ele
me respondeu o seguinte.
Nós
quando cometemos um crime para com um irmão aqui nesta terra, podemos com o
tempo preso pagar a divida em que fomos condenados, mas só saldamos a divida
com Deus se tivermos saldos suficientemente de arrependimentos.
Eu
creio que usar um nome ou pregar alguma coisa em beneficio não vai salvar da
ira de Deus, ainda mais do jeito em que falaram dentro do Carandiru, iriam usar
para construir receitas liquidas, por isso eu não entrei nessa e digo se não tiver
arrependimento do que fez dentro do coração não haverá homem que se salve.
Não
é fazendo arranjar de milagres que terão perdão de Cristo, eu ainda mesmo
depois de tantos anos sofro com o que vejo em meu pensar, pois lembro do tombar
do homem que matei e o sangue dele parece que ainda escorre em minhas mãos, por
isso noite e dia peço perdão.
O
senhor Gervasio terminado de contar a história levantou para tomar água, ao
mesmo tempo chegou um freguês e ele foi embora, não o vimos mais, com o passar
dos anos retornei ao meu legado e sempre penso se o que me contou foi
verdadeiro.
Por
outro lado o quê está acontecendo de uns anos para cá parece que ele tinha
mesmo a verdade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário