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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O Arranjar do Milagre.12/12/12

O Arranjar do Milagre.   
            Este historiar contado por mim tanto pode ser verdadeiro como também pode ser arquitetado, mas ouvi.
Eu residia no Jardim Bela Vista, na cidade de São Paulo e trabalhava em uma borracharia na Avenida Brigadeiro Luiz Antonio está borracharia ficava bem próximo ao Teatro Bibi Ferreira.
Pois bem, sendo borracheiro não podia de forma nenhuma recusar conserto de pneus e foi assim que conheci um senhor taxista por nome de Gervasio, estava já fechando a borracharia quando ele estacionou seu táxi em frente e me disse.



            Sei que já esta fechando, mas preciso desse seu favor, moço.
Na hora achei ruim, eu tinha trabalhado o dia todo e já era quase nove horas da noite, mas como dizer não se trabalhava a comissão.
Fiz o serviço ele me pagou agradeceu e sumiu por vários dias, em uma sexta feira ele adentrou a borracharia com dois pneus para consertar, reconheci na hora por que ele arrastava há voz um pouco gago.
Enquanto fiz os pneus conversamos muito, aquele dia ele me disse que era do norte e que sua família moravam todos lá, consertei os pneus ele novamente me pagou e desapareceu novamente.
Como na borracharia vendíamos pneus, câmaras, e além de lâmpadas de faróis e outras coisas miúdas para automóveis, certo dia ele chegou novamente a procura de lâmpadas de setas, essa parte eu não fazia, mas tinha o eletricista que trabalhava com esses componentes e fez o serviço.
Enquanto o Zequinha dava arrumação no táxi do senhor Gervasio, nós ficamos conversando, foi então que ele me falou que deixou sua família no norte há anos atrás e não mais voltou.
            Não sei por que eu sempre faço grande amizade com as pessoas e elas logo confiam em mim e passa rapidamente a expor suas vidas, talvez seja porque eu as escuto sem me aparecer, pois sou sempre humilde e ouço mais do que falo, portanto acho que é por isso que elas vão se abrindo e me contam muitos segredos,
Assim o senhor Gervasio foi cada vez mais se tornando freguês da borracharia e para nós era muito bom, pois ter freguês é manter as contas em dia.
Ao completar um ano da nossa amizade o senhor Gervasio praticamente já havia me contado tudo de sua vida, eu sabia que ele deixou esposa, filhos no norte, não mais voltou e por isso ajeitou uma nova mulher, por duas vezes ela veio até a borracharia.
            Em uma tarde quando estávamos sem serviço apareceu na borracharia o senhor Gervasio e foi neste dia que ele abriu o bico e me contou tudo, mas tudo mesmo começou assim.
            Eu quando morava no norte matei um caboclo por ter assobiado para minha mulher.
Isto ele falava na maior tranqüilidade e com o arrastar do nordestino, eu fiquei ouvindo toda a historia.
Pois bem menino, daí eu tomei rumo e vim cair aqui em São Paulo, me escondendo de tudo e de todos, mas um dia uma policia me deu ordem de prisão, peguei vinte anos de cadeia.
Com vinte anos nas costas para cumprir fui jogado no Carandiru, durante uns cinco anos uma vida completamente besta eu tinha lá dentro, mas com meu bom comportamento comecei sair em datas promocionais para visitar meus familiares, como eu tinha juntado com está mulher que tenho ia para o barraco da família.
E foi nessas idas e vindas do Carandiru que fiquei conhecendo um primo de minha mulher também nordestino por nome de João.
João havia cometido crime dentro de um banco, pois ele era um bandido dos mais violentos, roubava, assaltava se desse à grana ele não fazia nada, mas em um roubo, o segurança quis proteger o banco atirando nele, João matou dois sem dó sem piedade, raça forte.
João estava preso no mesmo Carandiru, mas nunca tínhamos topado lá dentro e com o conhecimento que tive para com ele, tornamos melhores amigos e assim sempre batíamos longos papos, até o dia em que fomos assistir um culto feito por um ministro vindo de certa igreja que nunca havíamos escutado o nome, creio que era igreja fundada de novo.
O tal nos convidou para ajudá-lo na missão de construir almas-cegas, eu não quis.
            Mas João fez amizade com esse pastor e esse homem foi passando as dicas de como pregar, como evolver uma mente a crença e assim com pouco tempo João já estava fazendo as pregações dentro do Carandiru e foi lá dentro que ele adquiriu todo conhecimento da fé humana.
Muitas vezes ele me disse que se eu quisesse poderia ficar milionário usando a fé louca que o ser humano tem, por varias vezes eu rebati o que ele dizia, mas como via que ele não poderia ser dominado larguei mão.
Muitas vezes ele disse que seu pastor maior, o tal que vinha no presídio ensinava como lidar com os mortais, a pregação tem que ser feita com emoção, como um ator em um teatro que prende a atenção de quem está assistindo assim é o bom pastor.
Se precisar chora como a um bebê pedindo mamadeira ou fala como um capitão de exercito dando ordens aos seus subordinados assim tem que ser um ministro que usa palavras.
A pessoa não precisa saber nada basta ter coragem e ditar as regras necessária para que tudo aconteça, pois a fé do ser humano dá firmeza e tudo acontece até mesmo aleijado anda, cego vê, o mudo fala, a ferida fecha, o sangue talha, a dor some assim quem prega é exaltado como sendo o bem feitor da obra.
Ainda dizia João que o grande homem da palavra santa falará que para se sair bem muitas manobras há de ser feitas, para que todos acreditem é preciso fazer o trabalho bem feito, por isso deve-se contratar pessoas com vontade de ter melhora induzindo-os a fazer e dizer coisas, assim o prodígio acontece de toda maneiras.
            E como a medicina está muito avançada e os remédios estão cada vez mais rápidos no eficaz efeito da cura fica bem mais fácil fazer um fenômeno acontecer além da fé existente, fora isso tem como iludir milhares e milhares de pessoas com o ilusionismo, pois o mágico sendo rápido dentro de milhares, somente o privilegiado pode descobrir a receita.
            Continuava o senhor Gervasio me contando o que ele ouviu do então primo de sua mulher João lá dentro do Carandiru, eu só ouvindo e imaginando por isso que está cheio de sacanagem por aí.
João me disse que o homem pregador dissera, faremos chover fogo se preciso e até milagre de pagar uma divida acontece se a pessoa tiver fé e depositar um saldo para o inicio do liquidar.
            Perguntei a João, mas como pode ser isso, ele me respondeu um pouco rude, pedimos um tanto e esse tanto vai se tornar milhares de vezes maior e para uma divida ser paga para dizer que é o fenômeno acontecido muito fácil será , claro que para isso acontecer temos que adquirir conhecimentos sobre o devedor, com alguma ajuda.
Não estava entendendo, mas ele continuou a me explicar, alguém de nossa confiança descobre tudo sobre a pessoa que está devendo e com a arrecadação que se tornou um montante muito grande mandamos à pessoa confiável depositar saldando assim a divida do devedor no banco.
Se a divida for para com outra pessoa que o tal deve, damos um jeito de pagá-lo sem que este fale nada, tudo é fácil principalmente quando se envolve dinheiro, quem provara que foi nós que pagamos se não tiverem um comprovante para constar.
Com isso nossa facção aumenta como bicho na carniça e nos tornaremos imbatíveis, até mesmo os homens estudados ajoelharam aos nossos pés, seremos como vento que leva a chuva para fazer o arroz nascer.
Como pardais na comunheira dos casarões estaremos observando o alimento cair das sacolas vindo do mercado,nas mãos das mulheres descuidadas, seremos como mêrro no meio de pássaro preto, jamais encontraram o ponto para condenarmos, pois não deixaremos rastros para chegarem às pistas.
João falava com um conhecimento como a um que estudou por anos, eu ouvia, mesmo não achando justo aquilo, mas ele dizia que era o que ia fazer ao sair do Carandiru.
            Então em mil novecentos oitenta e quatro eu sai do Carandiru, acertei as contas com a justiça paguei o que devia, indo viver em liberdade com minha mulher, foi então que meu cunhado me deu emprego de taxista e hoje sou o proprietário do carro.
João saiu do Carandiru em mil novecentos e noventa e dois e a ultima vez que ouvi falar dele foi no ano de mil novecentos e noventa e oito, era pregador em um templo no interior.
João já tinha refeito sua vida, casado, com filhos pequenos mesmo sendo de uma idade avançada, tinha propriedades, carros e lojas, foi como ele mesmo disse a mim, sairia da prisão não mais para matar e sim arranjar modestos para acompanhá-lo. 
             A única coisa que perguntei ao senhor Gervasio foi porque ele não quis seguir o então primo de sua mulher na empreitada, ele me respondeu o seguinte.
Nós quando cometemos um crime para com um irmão aqui nesta terra, podemos com o tempo preso pagar a divida em que fomos condenados, mas só saldamos a divida com Deus se tivermos saldos suficientemente de arrependimentos.
Eu creio que usar um nome ou pregar alguma coisa em beneficio não vai salvar da ira de Deus, ainda mais do jeito em que falaram dentro do Carandiru, iriam usar para construir receitas liquidas, por isso eu não entrei nessa e digo se não tiver arrependimento do que fez dentro do coração não haverá homem que se salve.
Não é fazendo arranjar de milagres que terão perdão de Cristo, eu ainda mesmo depois de tantos anos sofro com o que vejo em meu pensar, pois lembro do tombar do homem que matei e o sangue dele parece que ainda escorre em minhas mãos, por isso noite e dia peço perdão.
O senhor Gervasio terminado de contar a história levantou para tomar água, ao mesmo tempo chegou um freguês e ele foi embora, não o vimos mais, com o passar dos anos retornei ao meu legado e sempre penso se o que me contou foi verdadeiro.
Por outro lado o quê está acontecendo de uns anos para cá parece que ele tinha mesmo a verdade.

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