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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O Bichano

O Bichano
Quando ainda criança morava na chácara perto da cidade, ficamos conhecendo um fazendeiro que tinha uma fazenda, um pouco próximo da cidade também, pois naquela época as fazendas começavam perto das cidades e sumia mundo a fim.
Este fazendeiro ia e voltava da cidade somente a cavalo, pois era poucos os que tinham automóvel, naquela região ainda creio que ninguém tinha, então ele passava na estrada que tinha dentro da chácara e fez amizade com meu pai, teve uma vez que ele chamou meu pai para ir trabalhar na fazenda dele.
Meu pai disse que não podia, tinha acabado de chegar e ficava feio deixar o patrão na mão.
O fazendeiro até fez uma proposta para meu pai, dizendo que se ele fosse trabalhar com ele, ele pagaria bem mais do que meu pai ganhava ali.
Como meu pai sempre dizia que onde pagasse mais é que deveria estar, até pensamos que ele iria de imediato, mas a resposta de meu pai foi que ia pensar.
O fazendeiro foi embora, mas sabíamos que meu pai disse assim, porque tinha que falar com nossa mãe. 
Ele nunca tomava uma iniciativa sem participar á mulher.



Depois de quinze dias estávamos morando na fazenda e o papai foi trabalhar na lida com gado de engorda.
Ninguém de nós esperava que aquele fazendeiro fosse tão mau.
Ele era daqueles que levantava muito cedo e ia percorrer toda a fazenda depois vinha para o curral ficando ali até o término da tirada do leite, que sempre terminava às nove horas.
Durante aquele tempo em que ele ficava ali se aparecesse algum cachorro por perto do gado, ele quase que acabava com o cachorro a pauladas.
Se fossem os gatos que tinham ali então era pior, chamava os bichanos e dava o maior cacete neles. Era de uma tamanha crueldade para com os animais que ficávamos impressionados com aquilo.
O fazendeiro chutava a barriga das vacas sem mais sem menos, bastava à vaca não ficar quieta.
Se ele fosse mexer com algum animal e o animal não fizesse o que ele queria, podia contar que o animal saia ferido.
Uma tamanha covardia para com os animais, que dava pena.
Meu pai que não aprovava aquele jeito do fazendeiro até comentou com minha mãe que ia falar com o homem,.
Minha mãe disse que não era para meu pai mexer.
Mas meu pai era daqueles que nem queria saber o que tinha para falar ele falava doesse em quem doesse.
Chegou perto do fazendeiro e disse a ele, o senhor não tem medo que a crueldade que o senhor faz com os animais se volte contra o senhor?
O fazendeiro ficou tão bravo com meu pai que falou para ele que era para cada um tomar conta de si.
Com ele era daquele jeito e pronto.
A vida é assim um dia atrás do outro, meu pai não mais tocou no assunto e nem deu bola para as malvadezas do homem.
Também se meu pai tivesse continuado a falar com o fazendeiro a coisa não ia ficar boa.
Tínhamos que sair de lá, mas meu pai estava ganhando três vezes mais do que o último emprego.
Como sair então?
Tinha passado uns seis meses à mulher do fazendeiro ficou em cima dele para reformar o casarão da fazenda, ele era muito antigo e estava dando muitas goteiras.
O casarão tinha muitos anos.
O madeiramento do telhado estava ruim, com isso molhava muito, as esteiras do forro estavam todos podres, caindo partes.
Tinha que consertar urgente.
E dentro do forro velho moravam milhares de ratazanas.
Os gatos não saíam mais de cima do forro durante a noite era aquele inferno de tanto barulho de gatos correndo um atrás do outro por causa de ratos.
Um mês depois, os pedreiros e carpinteiros e serventes estavam mexendo no casarão.
O fazendeiro e sua família mudaram para uma pequena casa ali mesmo perto até a reforma do casarão.
O casarão tinha uns nove metros de altura, do chão até o telhado, para descer as telhas eles fizeram uma corredeira de tabuas, onde o de cima soltava e quem estava em baixo iam retirando elas do lugar, o fazendeiro não queria que quebrassem as telhas, pois iriam aproveitá-las em outra coberta de um paiol.
Todos os dias cedo e a tarde o fazendeiro ia à construção para dar uma olhada no serviço dos pedreiros e carpinteiros e dizia como ele queria que ficasse a nova morada.
Às vezes a esposa do fazendeiro ia a construção com o marido dar uma olhada no serviço, que estava sendo executado e ver se estava ficando do seu agrado.
Foram três meses de trabalho para reformar o taperão.
Também fizeram uma grande reforma no casarão desde o assoalho até o telhado.
Trocaram tudo.
Colocaram a tapera velha em um novíssimo casarão.
No dia em que terminaram a reforma do casarão os carpinteiros pediram aos ajudantes para guardar as fermentas, que a noite o fazendeiro iria levá-las para eles até á cidade.
Os ajudantes guardaram todas menos uma machadinha que ficou esquecida em cima da trave do casarão e onde a machadinha ficou não dava para ver ela do chão.
Somente se subisse em uma escada, como isto não foi feito ela ficou ali.
De onde a machadinha foi esquecida até o chão dava sete metros mais ou menos.
Os gatos continuaram a subir no forro entrando por vagas que ficou das telhas até as traves, para ir até o forro eles faziam um caminho grande, primeiro pulava em uma varanda que tinha em frente à cozinha e depois pulavam da varanda até uma beirada que tinha na chaminé e em seguida pulava para dentro do forro.
Isso era toda a noite.
Depois de quatro dias que tinham terminado a reforma o fazendeiro e a família retornaram de mudança para o casarão.
Não fazia nem um mês direito que tinha voltado de mudança para o casarão, o fazendeiro estava sentado em uma pedra que tinha em frente a um porão do casarão, isso era por volta das sete da noite, todos estavam ali jogando conversa fora, pois todos os dias eles faziam isto ficavam ali até a hora de dormir. 
Estavam todos alegres contando piadas, outros casos e acontecimentos que se passaram ali na fazenda e lá no forro os gatos estavam na maior anarquia, correndo para lá e para cá.
O fazendeiro estava ali sentado na pedra e bem em baixo de onde a machadinha tinha ficado esquecida pelos ajudantes dos carpinteiros.
E os gatos correm para cá e correm para lá, até que um deles deu de frente, com o cabo da machadinha derrubando-a lá de cima.
A machadinha desceu em direção à cabeça do fazendeiro, que estava sentado bem ali em baixo.
Aquela machadinha desceu tão rápido que ninguém notou o que estava para acontecer.
Ao cair lá de cima veio com o corte para baixo, que ao atingir o fazendeiro entrou em suas costas bem perto da cabeça, atingindo a coluna vertebral ficando ali presa.
Cataram o fazendeiro levando rapidamente para o hospital onde fizeram a operação rapidamente, o fazendeiro ficou três meses em coma.
Depois de três meses, voltaram os sentidos, mas infelizmente não mais irá andar, assim dizem os médicos.
Agora o fazendeiro vive de cadeira de rodas de um lado para outro, sendo empurrado, ora por uma filha, ora pela esposa, ele acalmou um pouco, também nem fica fazendo hora perto do curral, agora quem toma conta dos seus interesses são seus filhos homens.
Sua vida se tornou em uma cadeira de rodas e um Bichano que anda perto dele para onde vai.
A vida tem disso mesmo, um homem que sonha muito não sabe qual o sonho certo de seguir para seu viver, aquele que faz do seu sonho em querer ter poder e maldade transforma se em escravo do seu próprio sonho.


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