O Bichano
Quando ainda
criança morava na chácara perto da cidade, ficamos conhecendo um fazendeiro que
tinha uma fazenda, um pouco próximo da cidade também, pois naquela época as
fazendas começavam perto das cidades e sumia mundo a fim.
Este fazendeiro ia e voltava da cidade somente a cavalo,
pois era poucos os que tinham automóvel, naquela região ainda creio que ninguém
tinha, então ele passava na estrada que tinha dentro da chácara e fez amizade
com meu pai, teve uma vez que ele chamou meu pai para ir trabalhar na fazenda
dele.
Meu pai disse que não podia, tinha acabado de chegar e
ficava feio deixar o patrão na mão.
O fazendeiro
até fez uma proposta para meu pai, dizendo que se ele fosse trabalhar com ele,
ele pagaria bem mais do que meu pai ganhava ali.
Como meu pai sempre dizia que onde pagasse mais é que
deveria estar, até pensamos que ele iria de imediato, mas a resposta de meu pai
foi que ia pensar.
O fazendeiro foi embora, mas sabíamos que meu pai disse
assim, porque tinha que falar com nossa mãe.
Ele nunca
tomava uma iniciativa sem participar á mulher.
Depois de quinze dias estávamos morando na fazenda e o papai
foi trabalhar na lida com gado de engorda.
Ninguém de nós
esperava que aquele fazendeiro fosse tão mau.
Ele era
daqueles que levantava muito cedo e ia percorrer toda a fazenda depois vinha
para o curral ficando ali até o término da tirada do leite, que sempre
terminava às nove horas.
Durante aquele tempo em que ele ficava ali se aparecesse
algum cachorro por perto do gado, ele quase que acabava com o cachorro a pauladas.
Se fossem os
gatos que tinham ali então era pior, chamava os bichanos e dava o maior cacete
neles. Era de uma tamanha crueldade para com os animais que ficávamos
impressionados com aquilo.
O fazendeiro chutava a barriga das vacas sem mais sem menos,
bastava à vaca não ficar quieta.
Se ele fosse
mexer com algum animal e o animal não fizesse o que ele queria, podia contar
que o animal saia ferido.
Uma tamanha
covardia para com os animais, que dava pena.
Meu pai que não aprovava aquele jeito do fazendeiro até
comentou com minha mãe que ia falar com o homem,.
Minha mãe
disse que não era para meu pai mexer.
Mas meu pai
era daqueles que nem queria saber o que tinha para falar ele falava doesse em
quem doesse.
Chegou perto
do fazendeiro e disse a ele, o senhor não tem medo que a crueldade que o senhor
faz com os animais se volte contra o senhor?
O fazendeiro ficou tão bravo com meu pai que falou para ele
que era para cada um tomar conta de si.
Com ele era
daquele jeito e pronto.
A vida é assim um dia atrás do outro, meu pai não mais tocou
no assunto e nem deu bola para as malvadezas do homem.
Também se meu
pai tivesse continuado a falar com o fazendeiro a coisa não ia ficar boa.
Tínhamos que
sair de lá, mas meu pai estava ganhando três vezes mais do que o último emprego.
Como sair
então?
Tinha passado uns seis meses à mulher do fazendeiro ficou em
cima dele para reformar o casarão da fazenda, ele era muito antigo e estava
dando muitas goteiras.
O casarão
tinha muitos anos.
O madeiramento
do telhado estava ruim, com isso molhava muito, as esteiras do forro estavam
todos podres, caindo partes.
Tinha que
consertar urgente.
E dentro do forro velho moravam milhares de ratazanas.
Os gatos não
saíam mais de cima do forro durante a noite era aquele inferno de tanto barulho
de gatos correndo um atrás do outro por causa de ratos.
Um mês depois, os pedreiros e carpinteiros e serventes
estavam mexendo no casarão.
O fazendeiro e
sua família mudaram para uma pequena casa ali mesmo perto até a reforma do
casarão.
O casarão tinha uns nove metros de altura, do chão até o
telhado, para descer as telhas eles fizeram uma corredeira de tabuas, onde o de
cima soltava e quem estava em baixo iam retirando elas do lugar, o fazendeiro
não queria que quebrassem as telhas, pois iriam aproveitá-las em outra coberta
de um paiol.
Todos os dias cedo e a tarde o fazendeiro ia à construção
para dar uma olhada no serviço dos pedreiros e carpinteiros e dizia como ele
queria que ficasse a nova morada.
Às vezes a esposa do fazendeiro ia a construção com o marido
dar uma olhada no serviço, que estava sendo executado e ver se estava ficando
do seu agrado.
Foram três meses de trabalho para reformar o taperão.
Também fizeram
uma grande reforma no casarão desde o assoalho até o telhado.
Trocaram tudo.
Colocaram a
tapera velha em um novíssimo casarão.
No dia em que
terminaram a reforma do casarão os carpinteiros pediram aos ajudantes para
guardar as fermentas, que a noite o fazendeiro iria levá-las para eles até á
cidade.
Os ajudantes guardaram todas menos uma machadinha que ficou
esquecida em cima da trave do casarão e onde a machadinha ficou não dava para
ver ela do chão.
Somente se
subisse em uma escada, como isto não foi feito ela ficou ali.
De onde a machadinha foi esquecida até o chão dava sete
metros mais ou menos.
Os gatos continuaram a subir no forro entrando por vagas que
ficou das telhas até as traves, para ir até o forro eles faziam um caminho
grande, primeiro pulava em uma varanda que tinha em frente à cozinha e depois
pulavam da varanda até uma beirada que tinha na chaminé e em seguida pulava
para dentro do forro.
Isso era toda a noite.
Depois de
quatro dias que tinham terminado a reforma o fazendeiro e a família retornaram
de mudança para o casarão.
Não fazia nem um mês direito que tinha voltado de mudança
para o casarão, o fazendeiro estava sentado em uma pedra que tinha em frente a
um porão do casarão, isso era por volta das sete da noite, todos estavam ali
jogando conversa fora, pois todos os dias eles faziam isto ficavam ali até a
hora de dormir.
Estavam todos alegres contando piadas, outros casos e
acontecimentos que se passaram ali na fazenda e lá no forro os gatos estavam na
maior anarquia, correndo para lá e para cá.
O fazendeiro estava ali sentado na pedra e bem em baixo de
onde a machadinha tinha ficado esquecida pelos ajudantes dos carpinteiros.
E os gatos
correm para cá e correm para lá, até que um deles deu de frente, com o cabo da
machadinha derrubando-a lá de cima.
A machadinha desceu em direção à cabeça do fazendeiro, que
estava sentado bem ali em baixo.
Aquela machadinha desceu tão rápido que ninguém notou o que
estava para acontecer.
Ao cair lá de
cima veio com o corte para baixo, que ao atingir o fazendeiro entrou em suas
costas bem perto da cabeça, atingindo a coluna vertebral ficando ali presa.
Cataram o fazendeiro levando rapidamente para o hospital
onde fizeram a operação rapidamente, o fazendeiro ficou três meses em coma.
Depois de três
meses, voltaram os sentidos, mas infelizmente não mais irá andar, assim dizem
os médicos.
Agora o fazendeiro vive de cadeira de rodas de um lado para
outro, sendo empurrado, ora por uma filha, ora pela esposa, ele acalmou um
pouco, também nem fica fazendo hora perto do curral, agora quem toma conta dos
seus interesses são seus filhos homens.
Sua vida se
tornou em uma cadeira de rodas e um Bichano que anda perto dele para onde vai.
A vida tem disso mesmo, um homem que sonha muito não sabe
qual o sonho certo de seguir para seu viver, aquele que faz do seu sonho em
querer ter poder e maldade transforma se em escravo do seu próprio sonho.
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